Sunday, February 27, 2005

Dimitri

Chama-se Dimitri, é ucraniano e homossexual! Tem 32 anos e formação em história e ciências sociais, tendo feito um mestrado sobre os homens feministas na transição democrática “pós-queda do muro” na Ucrânia.
Trabalha num empresa de Coimbra, de entregas ao domicílio pela região centro.
Esta a viver em Portugal há três anos depois de uma passagem por França – Paris – Mal sucedida… recorda ter vendido o corpo para poder se alimentar.
Em Portugal trabalhou um ano como trolha ma área metropolitana de Lisboa… depois veio para Coimbra.

É domingo, fim da manhã… hora do almoço… vim “fazer observação para a baixa… queria perceber/observar que movimentos têm as ruas da baixa a esta hora e neste dia… E acabei por estar a ler Paul Claval na “estação nova”. Aquele olhar azul insistente chamou-me à atenção. E sabendo que a única forma de entrar em contacto com ele seria … no WC,,, segui-o. Nada se passou, mas acabámos por meter conversa… falámos mais de uma hora! Um pessoas interessante e interessada!

Procura conhecer, perceber a cidade de Coimbra em termos de homossexualidade. Tal como desconfiava conhece muitos outros homossexuais na comunidade imigrante… ou melhor ele reafirmou que existem práticas homossexuais nessa comunidade… mas nada que se compare com reais vivências homossexuais.
Diz que Coimbra é uma cidade estranha… recorda em Lisboa as idas mensais – que o dinheiro não dava para mais…- ao Finalmente e às saunas.
Pergunta-me porque Coimbra não tem espaços assim. Não consigo deixar de engolir em seco!
Espera conhecer alguém, português ou imigrante, se bem que prefira os primeiros, com quem possa partilhar construindo uma história de amor. Fala-me do namorado que ficou em Kiev, fala desse amor/relação que não resistiu à necessidade de imigrar.

Questionado sobre como “vive” a sua (homo)sexualidade em Coimbra… refere as vindas à “estação nova” nos sábados pela tarde e aos domingos! Dia que está farto de “actos rápidos” e que quer conhecer de facto alguém. Critica os homossexuais portugueses por não levarem a sério os imigrantes… “sinto-me um pedaço de carne branca, cabelo louro e olhos azuis”. Um crítica mordaz às vivências sexuais centradas no uso do corpo do “Outro”… neste caso o Eslavo Imigrante.
Pergunta-me repetidamente onde se encontram os homossexuais na cidade de Coimbra… tento-lhe explicar que não existindo nenhum espaço “assumidamente homossexual” a comunidade funciona como uma “rede de redes” de amizades, em que as pessoas se vão conhecendo através de amigos.

Fica como o meu numero… quero entrevistá-lo, mas acima de tudo gostava de o ajudar! Por isso exorto-o a que me ligue… tento convence-lo. Mas ele tem um olhar desiludido, pouco convencido da minha vontade de o ajudar…

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