Monday, April 18, 2005

O Código de Conduta e o Traje

Será que o traje – o modo de vestir – do investigador influencia o processo de pesquisa? Existirá um código de conduta quanto à vestimenta dos etnógrafos? Terá que o investigador que ter cuidado com o que veste quando realiza trabalho de campo? Mas se assim for não existirá um lado “falso” na presença do investigador no trabalho de campo?
Será que Boaventura de Sousa Santos teve cuidado na sua investigação no início dos anos 70 nas favelas do Rio de Janeiro? Na obra Towards a New Commom Sense (editada pela Routledge em 1995), no Chapter € (Chaper three-in-the-mirror) Relationships among perceptions that we call identity: doing research in Rio’s squatter settlements, -um texto brilhante sobre o trabalho etnográfico - refere a sua maneira de vestir como uma das suas excentricidades. De que modo essa sua excentricidade condicionou ou não a sua investigação.

Os que me conhecem pessoalmente – e que lêem este blog – sabem que tenho uma imagem pessoal excêntrica, que visto de um modo exuberante. Odeio o cizentismo e o azulismo das roupas masculinas... gosto de cores vivas, de roupa justa, de roupa andrógina.

Ontem à noite decidi-me depois do jantar, a ir beber um café ao bar do Teatro Académico Gil Vicente. Este espaço tem sido fortemente referido pelos meus informantes e pelos respondentes do inquérito como um dos locais de encontro entre os homossexuais na cidade de Coimbra. Por isso ir aquele lugar numa noite de Domingo parecia-me adequado.
Entrei e observei quem estava... sentei-me e tomei o meu café!
Reparei então nos três jovens num dos cantos do bar... olhavam “sorridentes”! Reconheci um deles: um jovem “problemático” quanto à sua orientação sexual. Levantei-me, cumprimentei-o e voltei para a minha mesa.
Os amigos olhavam para mim... voltei ao meu lugar e ouvi então: “Que roupa tão bicha!”.
Nada de novo...
Um comentário malicioso como tantos outros que tenho ouvido ao longo da minha vida! Mas de que modo este tipo de comentários podem influenciar o meu estudo? De que modo, junto de uma comunidade tão pouco visível, a minha visibilidade – publica, nomeadamente como activista – influencia a minha relação etnográfica?
Fiquei aborrecido como pessoa... mas esta situação levou-me acima de tudo a pensar no modo como estas coisas podem influenciar os processos de investigação.
E vocês que acham?

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