Sunday, April 24, 2005

A sexualidade produz cidade?

“O espaço invade o corpo e a mente para produzir experiência de fascinação , observação, desejo, alienação, investigação e transgressão – e deveremos acrescentar (pelo menos) exploração, abuso, voyerismo e privilégio”

Steve Pile é um dos muitos geógrafos pos-estruturalistas ingleses que tem vindo a escrever algumas das mais interessantes páginas sobre cidade, corpo e sexualidade… Como refere: “I have been undertaking a series of writing activities investigating the relationship between the city, everyday life and the spatial constitution of power”.
Num livro, recente intitulado, Temporalities, autobiography and everyday life, Steve Pile publica um capítulo intitulado Memory an the city, em que o autor sugere a ideia de que “as narrativas do self são inerentemente espaciais; e são espacialmente constituídas”
Neste interessante texto a influencia do filosofo alemão, Walter Benjamim, e do seu pensamento nomeadamente da ideia da cidade como memória. Os cafés, o passear na rua tudo isso ‘allows memory to flood in’.

Essa memória de encontros sexuais, essa memória de que “o desejo é cartografado nas ruas, (...) que atravessar espaços é sexual, que passear pedido pelas ruas é intrinsecamente sexual”. Essa memória que os meus informantes me falam... essa memória de espaços e de vivências.
Parte do meu trabalho é cartografar esse desejo homossexual nas ruas de Coimbra. É mostrar a outra cidade... é o passear pela ruas da cidade e ver a “outra Coimbra” que se demonstra nos sonhos e nos medos do encontro – não apenas sexual, mas eminentemente social - homossexual. Essa outra cidade que tem estado escondida no quadro heteronormativo com que a temos observado e que urge ultrapassar.

Como refere Pile “ é por isso possível pensar o espaço como organizador e produtor de género e sexualidade , mas também o género e a sexualidade como produtores de cidade”. Os exemplos e as palavras dos meus informantes que tenho analisado vão mostrando como por exemplo alguns espaços de Coimbra se tornam pela sua características de “anonimato e multidão” espaços construtores de uma sexualidade homossexual. Uma sexualidade - e as suas sociabilidades - “escondida” em códigos próprios de entendimento comunitário...
Mas, mostram também como essa mesma sexualidade vai construindo espaços como centrais nas vivências urbanas de toda a população. Espaços esses que o olhar menos atento da cidade caracterizará como minoritário, escondido, excluente, mas que na realidade aparecem como modelos de sociabilidade de grande importância para determinadas franjas da população.
Estes dois efeitos surgem essencialmente nos espaços semi-públicos, nomeadamente bares e cafés, mas também em alguns dos centros comerciais da cidade e em espaços universitários.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Aprendi muito

Saturday, November 21, 2009 10:45:00 AM  

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