Wednesday, May 04, 2005

o desafio

Lançado o desafio à alguns dias recebi já algumas respostas de leitores!
O Mondeguino enviou-me este texto de que gostei muito, e que partilho com vocês...

Ok. Aceito o desafio embora não perceba muito bem qual a utilidade que possa ter. Uma nova perspectiva da questão? Um novo ponto de observação? Inquérito velado a quem te lê e não se dá? Bom, tanto faz... Prefiro encarar o repto como uma forma criativa de repescares os silenciosos e dares voz aos calados. Após o exercício de me tentar colocar no teu lugar até posso achar que é lícito. Afinal tu expões-te, partilhas, arriscas. Quem te espreita? Quem te anda a cuscar?! De que cor são os olhos de quem te lê?! Que idade terá? É... talvez seja por aí...

Muitos anos de heterossexualidade fizeram de mim homossexual rendido aos prazeres das masculinas carnes. Nem se aplicará a forma bissexual da questão porque, confesso, depois de consumada a tentação, não mais regressei. Por outras palavras, fiquei de quatro. Adiante.

Coimbra. Ai... Coimbra. Mil vezes PORRA... Coimbra.
Não nasci por cá. Os azimutes da vida em bússulas loucas de giração trouxeram-me cá (há 30 aa, mais precisamente). Talvez por isso tenho a veleidade de imaginar que sou mais objectivo, que em nada me comparo com os coimbrinhas, que não sou um deles. Por falar nisso, achei piada ao teres utilizado, algures, este termo. Sempre o usei e ele existe, isto é, tem forma e característica. É um cromo e tanto!
Mas isso só vem ao caso por enquadramento e, portanto, avancemos...

A cidade, em si, é uma eterna contradição. Se por um lado é tradicional e vaidosa, por outro, tem uma população jovem, flutuante, de 20.000 marmanjos. Dos professores-dótores nada posso esperar. As doutas opiniões não são conhecidas publicamente, podem dar belíssimas aulas mas não participam na vida visível da cidade. Não são criativos nem arriscam o seu dinheiro em saltos de investimento. Nem sequer são lobby por que não têm um "clube", não se falam nem se encontram.
Do pessoal mais jovem esperaria tudo. Queria que me vingassem na loucura dos sangues fervilhantes que, por falta de rasgo ou coragem, não tive. Chegam, arrendam quartos, estudam por fotocópias, saem numa ou noutra noite, caem de bêbados durante uma semana no ano, formam-se e vão embora. Nada acrescentam à cidade. Daqueles 20.000 gostaria de ver criatividade, arte, teatro... PORRA, uma movida, uma "merda" qualquer! Nada. Transportando esta realidade para o plano do teu desafio diria que é igual, ou seja, paralelo.
Imagino que deverá existir um mundo professor-dótor-gay, algures escondido nos gabinetes, às escondidas das respectivas esposas. Se quiser apimentar a cena posso imaginar, até, algum requinte, tipo grupo secreto, em que os personagens vão rodando, para não cansar.
Quanto aos outros, o pessoal que eu gostaria que fosse mais marado, irremediavelmente NADA. Devem "foder" nos carros, algures pelo miradouro do Vale do Inferno (isto apenas por hipótese porque, quando lá fui mostrar a cidade a um casal amigo, eles fizeram-me notar as camisinhas, pelo chão). E pouco mais. Nos quartos uns dos outros, em visitas furtivas, não devem ser muitos os casos porque o colega do lado vê, ou a moça do apartamento ao lado, sei lá...
Isto para concluir que não vejo, não percebo, nesta cidade, qualquer comunidade gay. Não sei de casais homo que se assumam, que vivam normalmente, que convivam com outros, quer homo, quer hetero. Que sejam "visíveis" na forma mais natural e saudável de encarar as coisas. Fique claro e perceptível: por opção, não frequento locais atípicos e afins. Como diria uma pessoa minha conhecida - locais "temáticos", eh, eh, eh. Nada contra eles, é claro. É apenas uma opção minha, de estilo de vida, de feitio, de invisibilidade e de preservação da imagem. Tenho a cabeça resolvida comigo mesmo e isso, até agora, tem bastado. No raio desta cidade digo - não há condições (que condições? Não é suposto sermos nós a fazê-las, a mudá-las???). Porém, vou
tentando apanhar o que posso.Por ti fiquei a saber que Coimbra-B é local de engate. Até costumo lá ir Domingo à tarde para levar uma ou outra pessoa ao comboio. Nunca
dei por nada. Se calhar é porque só em situação de emergência utilizo os sanitários públicos...
Sei o que já disseste: o vai-e-vem na beira rio com sinalefas de luzes (alguém já me garantiu que a maior parte do pessoal que lá anda nem é de Coimbra...); da conotação do Kebra (nunca lá fui...). Não sei o que é engate de rua porque nunca assisti. Restam-me as tuas experiências relatadas que, às vezes, espreito...
Esta cidade cheira a mofo e água parada. Não tem "movida", não é cosmopolita quando tem condições para o ser. Às vezes parece que não respira, sequer. Mais rico que a cidade serás tu, pela entrega e pela partilha. Mais rico fico eu quando te leio.

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