Thursday, June 29, 2006

um notícia sobre este trabalho

Aqui vai uma notícia saida hoje no jornal diário de Coimbra, As Beiras, sobre as vivências homossexuais em Coimbra.


Esta foto, de Eduardo Basto, é uma das fotos do meu trabalho e que ilustra também esta notícia.


Resistência à homofobia nasce em certos locais da cidade

Patrícia Cruz Almeida

Em Coimbra, existem espaços, que não sendo locais de convívio gay, são percepcionados pela comunidade homossexual como sendo de maior liberdade.
Locais que vão criando resistência à homofobia.

O Parque Verde do Mondego, alguns locais da Alta e a área da Praça da
República são alguns espaços da cidade que são percepcionados de um modo
diferente pela comunidade homossexual. As conclusões resultam de um estudo
realizado por Paulo Jorge Vieira, no âmbito de uma tese de licenciatura em
Geografia.
"A minha proposta foi a de fazer um trabalho sobre as vivências espaciais
urbanas dos homossexuais na cidade de Coimbra. Basicamente, parti da ideia
de que não há espaços de visibilidade homossexual na cidade. Não há nenhum
bar gay em Coimbra, um espaço de encontro, pelo menos óbvio".
Durante um ano, Paulo Jorge Vieira fez observação participante em diferentes
locais da cidade, tendo realizado inquéritos e entrevistas a cerca de 60
homossexuais.
"Uma das conclusões é que a cidade tem vindo a mudar e já foi muito mais
conservadora do que é hoje". Um dos factores que tem contribuído para essa
mudança é o facto de haver lugares onde os homossexuais começam a criar,
eles próprios, resistência à homofobia que "ainda está muito marcada na
cidade".
A comunidade organiza-se por redes de amizade, "em que a possibilidade de
estar com os amigos e de sair com eles é um dos elementos fundamentais, o
que demonstra a importância das amizades e a possibilidade de encontro e de
convívio com outros homossexuais, sobretudo de jovens, para poderem estar à
vontade e falarem das suas vivências", explica o autor do estudo. "É
essencial que existam essas redes e, as associações - não te prives e a Rede
Ex Aequo - têm, aqui, um papel importante", acrescentou.
Ao criar essas redes de amizade, a comunidade, estando dispersa pela cidade
- já que não há dados que demostrem uma concentração residencial de
homossexuais - concentram-se em locais que são percepcionados como sendo
espaços de maior liberdade.
"Embora não sendo gays, são lugares onde a comunidade expressa melhor os
seus gestos de carinho", refere Paulo Jorge Vieira, notando que grande parte
dos inquiridos confessou ter dificuldade em ter um gesto de carinho num
espaço semi-público como é um bar.
Uma das etapas mais difíceis para uma relação homossexual é, de acordo com o
autor do estudo, estar um espaço onde um gesto de carinho seja possível. "E
esse gesto de carinho pode ser tão subliminar como duas mãos dadas por
debaixo de uma mesa. Ou um toque. Ou um olhar. Há todo esse percurso e todo
esse modo de estar que se vai construindo nesses locais, onde há liberdade,
onde as pessoas se sentem livres e que são espaços de menos preconceito."
Embora a comunidade homossexual continue a encontrar, na cidade, várias
barreiras à expressão dos seus afectos, há um caminho que começa a ser
trilhado para derrubar o preconceito. O Teatro Académico Gil Vicente é um
desses locais. "As pessoas normalmente encontram-se bastante no TAGV e aí há
um efectivo à-vontade da comunidade", lembrou o presidente da associação não
te prives.
"Se eu sair do trabalho e quiser ir beber um copo, eu sei onde vou encontrar
alguém conhecido. E é esta sensação de comunidade, de partilha de espaços,
de partilha de vivências que é possível criar", notou. Uma partilha que
traduz uma das formas mais importantes de resistência e de luta contra a
homofobia.
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HOMOFOBIA

"Coimbra é uma desilusão profunda"

"Coimbra é um camisa muito apertada onde nós [homossexuais] ou nos
encaixamos ou sentimos uma incapacidade de integração muito grande", revela
Paulo Jorge Vieira. Por isso, é natural que haja ainda muitos jovens que
vivem em processos de solidão muito grande.
O activista dá o exemplo de alguns estudantes que vêm de pequenas aldeias ou
vilas do país, esperançados que Coimbra, o local que escolheram para
estudar, seja um espaço onde possam viver bem a sua homossexualidade. "Mas
ao final de um mês percebem, claramente, que a cidade não é assim. Alguns
deles dizem que Coimbra é uma desilusão profunda", relata.
Por isso, há muitos jovens que partem para outros locais porque a cidade
deixou de lhes dar espaço. Segundo Paulo Jorge Vieira há, por um lado uma
incapacidade institucional e, por outro lado, uma homofobia cultural e
social que permanece na sociedade portuguesa, mas que em Coimbra, "talvez
pela sua lógica tradicionalista, é muito marcada".
Porém, acrescenta, existem outros sentimentos discriminatórios como o
racismo ou outras formas de exclusão social. Paulo Jorge Vieira critica o
facto das principais estruturas da cidade - seja a Universidade de Coimbra,
a Câmara Municipal ou até a própria Associação Académica - "continuarem a
dedicar muito pouca - ou nenhuma - atenção a estas questões".