Monday, May 30, 2005

a matemática do engate


Fui lanchar ao “bar das matemáticas”.
Comida a “sandocha” de ovo e bebido o sumo volto para o trabalho…
Mas uma necessidade biológica leva-me aos WC do Departamento de Matemática.
Olho e pressinto… na casa de banho ouve-se ruído… um estranho ruído!
Um abafado e sentido som vinha de alguém dentro de uma das “casinhas”.
Lavo as mãos.
Um jovem sai da dita “casinha”.
Encavacado… sai.
Espero um pouco… sai o segundo jovem…

Sunday, May 29, 2005

o “chá” em obras

Da minha casa vejo o “chá”… ou melhor, vejo Santa Clara e a Margem Esquerda.
Animo-me, algumas vezes, a beber chá à varanda e a observar a animação que vai pela avenida junto ao Estádio Universitário…
A observação longínqua do espaço geográfico que em outros momentos é o espaço de observação etnográfico próximo pode ser bastante enriquecedora.
Saber que um dos meus espaços privilegiados de observação está ali ao meu alcance… a qualquer momento…
Recordo um exemplo: à algumas semanas, aí pelo final de Abril, ao olhar pela minha varanda vi um carro da PSP parar junto a outros dois veículos que estavam parados. Seguiram-se dois ou três minutos de previsível inquirição e logo os dois veículos saíram da avenida. Claro que durante os minutos que a polícia esteve por lá e durante mais algum tempo a avenida manteve uma calma fictícia. Como habitual a presenças das “forças da ordem” leva ao “desaparecimento” dos homossexuais.

Ontem quando olhei para a avenida, inicialmente fiquei espantado pelo corrupio que por lá andava… mas o engano cedo se desvaneceu: uma alteração no trânsito na área do Rossio de Santa Clara levou a um desvio do trânsito que cruza a ponte na direcção da Margem Esquerda para a avenida paralela ao Estádio Universitário. De repente o “chá” deixou de ser uma avenida marginal e virou um espaço central do tráfego.
Até quando? Como referiu um anónimo num comentário ao post anterior “o chá pode vir contudo a ter uma morte anunciada... quando o Fórum Coimbra e a Bissaya Barreto tiverem as obras terminadas aquela zona vai ganhar muito mais movimento... e como sabemos, quem vai ao “chá” não gosta de exposição...”. Se é verdade a questão que a população que frequenta o espaço não gosta de exposição, verdade será também que existirá sempre um espaço deste tipo na cidade (ou melhor, nas franjas da cidade) e que a “comunidade” saberá se adaptar e criar um novo espaço…
Espero para ver o que acontece!

Thursday, May 26, 2005

o “chá”…

Uma das marcas mais vísiveis da homossexualidade no espaço público da cidade.
Simplesmente para quem não sabe o “chá” corresponde a uma avenida junto ao Estádio Universitário de Coimbra, bem como a sua continuação numa estrada fronteira ao rio Mondego até ao lugar de Bencanta. É como habitual em tantas outras cidades um local de “cruising”, de engate, de encontro homossexual…
Por lá circulam carros que com sinais de luzes, seguimentos e conversas se vão encaminhando para um inter-conhecimento dos seus proprietários… Os espanhóis chamam a esta hábito “hacer la carrera”.



No caso de Coimbra é um espaço com uma longa história que nos últimos 20 anos sofreu profundas alterações mas foi sempre uma marca das vivências homossexuais da cidade.
Sobre a sua história uma nota: no início dos anos 90, quando eu pessoalmente comecei a frequentar tal espaço, este situava-se na Avenida Cidade Aeminium, do outro lado do rio, junto à Estação Nova. Ora esta avenida tem nos seus passeios algumas dezenas de tileiras. Essas tileiras deram o nome ao local… a comunidade encontrava-se na rua e dizia “vemo-nos nas tília”, ou então “logo à noite tomamos uma chá de tília?”. Daí a que a expressão “ir ao chá” se tenha familiarizado entre a comunidade passou pouco… no entanto, a memória da comunidade “esqueceu” a origem da expressão.

Hoje, bem como no passado, é uma realidade polémica. A opinião dos homossexuais da cidade varia: entre a crítica ao tipo de encontros sexuais que lá acontecem, ao perigo devido à presença de prostitutos (e aos ataques por parte de homófobos que por lá já aconteceram) ou à imagem de promiscuidade que é dada da comunidade homossexual, por um lado; e por outro aqueles que defendem o espaço como uma espaço de encontro de amigos, um espaço que foge à heteronormatividade dos restantes espaços da cidade.

Sendo um espaço fortemente polemizado na comunidade é ao mesmo tempo um espaço a que importantes franjas (os mais velhos com particular destaque) reconhecem muita importância.

Tuesday, May 24, 2005

…a bicha enclausurada…

Era muito tarde e cansaço que aparentemente se apoderava do meu corpo não me deixou dormir... por isso apesar de serem mais de 2 horas da madrugada resolvi ir até à Beira-Rio.
Uma volta por lá a pé cansaria mais o corpo e talvez fizesse o sono regressar... queria dormir muito e não conseguia.
E o olhar sobre a cidade do lado de lá é sempre tão belo…



Passear naquela hora tardia tem riscos evidentes, nomeadamente de segurança, mas o temor não fazia naquele momento parte do meu calendário.
Mal cheguei encontrei um grupo de três jovens que conheço. E que animados estavam...
Na nossa conversa “brincámos” com o tipo de figuras presentes naquela noite... reconhecendo as pessoas pelas matriculas dos carros, ou pelo modelo dos mesmos. A conversa caiu no rotular típico das conversas sobre práticas, discursos ou mesmo sobre as vivências de cada um. Alguns diriam que estivemos numa de cusquice... talvez mas a verdade é que fomos dando a “conhecer” assim as diferentes pessoas que por ali estavam.
Os três jovens com quem estava que tem em comum a área profissional, que criou e reforçou redes de amizade entre si estavam divertidíssimos.
Como nos conhecemos bastantes bem acabámos por conversar de muitas outras coisas nomeadamente das coisas de trabalho.

O A. é um desses jovens (25 anos), que por razões profissionais se encontra neste momento numa pequena localidade do interior do distrito de Coimbra e que se desloca a Coimbra, uma ou duas vezes por semana, com o objectivo de rever as pessoas que lhe estão próximas e de conhecer novos “amigos ou mesmo engates”.
Estas visitas são como ele disse os momentos “em que a bicha enclausurada dentro de mim sai e me divirto a sério com os meus amigos!”
Conversámos um pouco e o A. e ele salientou que apesar do aspecto promiscuo que a maioria das pessoas coloca naquele espaço esle sente o mesmo como um local onde “posso ser a louca” ou simplesmente conversar com os meus amigos.... um espaço que não sendo perfeito é o único onde a maioria dos homossexuais da cidade é sincero e aberto sobre a sua sexualidade, “sobre os seus desejos, a sua vontade... os seus sonhos!”. Lacónico, este jovem foi crítico a todos os que vão emitindo “discursos de moralidade sobre aquele espaço, mas que não o conhecem realmente!”

Mais uma história…

Há alguns dias pedi para me enviarem textos (podem continuar e enviar para o mail pjovieira@yahoo.com) sobre as vossas experiências em torno da homossexualidade na cidade de Coimbra.
Aqui vai mais um exemplo , desta feita, do Miguel Fernandes!


Descobri a minha bissexualidade já quase no final da adolescência, embora desde cedo tivesse começado a perceber que havia «algo».
Sou do sotavento algarvio, local de ilhas arenosas e praias quase
desertas... sempre fui um amante da natureza, de locais belos e pouco frequentados, por isso quando não tinha nada que fazer ao fim de semana pegava na bicicleta e lá ia para a ria e para a praia à procura de plantas dunares raras, camaleões e aves costeiras de zonas húmidas... inicialmente a minha ingenuidade não percebia o que sucedia nas dunas, mais tarde descobriria que aquelas praias estavam inscritas em tudo quanto é roteiro homo, nacionais e internacionais...
Mais tarde, já antes de vir estudar para a uni, continuei a lá ir, não apenas pelo ambiente mas porque me sentia bem ao passear à beira mar e ser fitado por insinuantes olhares de rapazes e homens que me atraíam fisicamente.
Recordo-me do primeiro rapaz que me abordou... passou ao meu lado a correr, ficou a olhar para trás, deu a volta e perseguiu-me sem eu notar... mergulhou depois ao meu lado, e muito nervoso, perguntou-me as horas, de onde era, se podia conversar comigo... respondi de forma seca, não estava de certa forma preparado para a situação, e ele educadamente não se cansou de pedir desculpas pela situação e partiu... Ali via-se de tudo... reconhecia o rosto de homens casados, adolescentes como eu, possíveis reformados, estrangeiros e até uma ou outra cara conhecida dos media...

Quando vim para Coimbra estava decidido a experimentar de vez «o outro lado»... conheci pelo chat da TV um sujeito que se intitulava um dos melhores alunos do seu curso, dotado de uma extensa cultura geral mas também de uma extrema arrogância e falta de simplicidade, que o levavam a ter um modo de vida nada típico num estudante deslocado que incluía vestir apenas alta costura ou frequentar os melhores restaurantes... inicialmente não entendia donde vinha o dinheiro... mais tarde percebi, quando acordei da ingenuidade e descobri que me enganava.

Na realidade por baixo dos bons costumes desta cidade de doutores e betos esconde-se uma promiscuidade bem activa, patente no chá da beira rio ou nos WC da universidade. Descobri recentemente através doutra pessoa um mundo que envolve trocas de olhares na rua, perseguições, mensagens nas portas de WC's, o “chá”, a Gala e Mira, enfim, tudo acontece afinal à nossa volta mas ninguém o admite. Coimbra, centro do centro- norte, é ponto de passagem obrigatório no chá para quem vem de Fátima, Covilhã, Aveiro, Leiria e até Lisboa e Porto. Os de cá, da cidade, sabendo a reputação do sítio, preferem outros meios: os bares no Porto, as praias da Gala e de Mira, os chats e de modo mais discreto as ruas da Baixa, O Quebra-Costas, o Quebra-Club e a Via Latina ao fim de semana.

Já fui algumas vezes abordado na rua; uma vez, tinha tanta curiosidade que me levaram ao chá; algum tempo depois, na Via Latina, sorriam para mim os rostos que me reconheciam de ver no carro naquela estrada uma hora antes.

As teias da promiscuidade são perigosas. Felizmente, já vi que chegue e não tenciono entrar nelas.

Monday, May 23, 2005

Um debate…

Numa resposta necessária a alguns pedidos – e apesar do atraso -, mas também a uma intenção minha aqui vão algumas notas sobre o debate “a Homofobia e a Universidade” feitas das minhas múltiplas identidades (homossexual, activista e investigador).



Um primeiro olhar para o pré-debate… o TAGV estava como habitual numa tarde de semana cheio de estudantes que estudavam, conversavam ou… simplesmente engatavam! Sendo o TAGV um dos locais de sociabilidade da população homossexual da cidade em particular dos estudantes universitários, este espaço de grande beleza arquitectónica estava nesse final de tarde “adornado” de um modo muito belo…

As apresentações feitas por mim e pela Carmo Marques – o Henrique Pereira, acabou por não vir – ocorreram como esperado… entre o mais académico e o mais activista foram apresentadas algumas ideias interessantes em torno das questões da educação e homossexualidade e homofobia no espaço universitário.

Mas foi o debate que se seguiu que animou as hostes. A moderadora, Magda Alves, (em representação do Pelouro de Intervenção Cívica da Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra) resolveu lançar a discussão da visibilidade e dos modelos de intervenção do movimento LGBT.
Gerou-se então uma discussão em tornos de temas mais ou menos habituais sobre o modelo de construção da visibilidade por parte do movimento LGBT em que surgiu a eterna discussão sobre a Marcha do Orgulho e coisas do género.
Foi assim a concentração de Viseu, realizada no dia anterior, que provocou mais polémica entre os presentes tendo parte deles defendido a necessidade de promover sessões de esclarecimento nas escolas, antes de avançar para esse tipo de intervenções públicas.
Gerou-se assim uma conversa animada entre o "olhar estratégico" de alguns dos presentes defendendo a necessidade de algum cuidado na exposição pública que provoque “choque” e aqueles que defenderam a questão da visibilidade homossexual como uma questão do “foro humano”, relacionada sim, com os direitos humanos e o combate à discriminação e a homofobia.
Acalorada a discussão teve o seu momento alto na confrontação entre a lógica da estratégia de intervenção e as vivências do quotidiano homófobo e discriminatório dos homossexuais, que levou a um ou outro "tom de voz" mais acalorado.

Uma nota final: ao longo dos últimos 3 anos tenho participado em inúmeras sessões deste tipo e sentido a dificuldade que é envolver a população homossexual nas mesmas. Este debate quebrou, definitivamente, - espero eu -, esta lógica.... eram muitos os jovens, na sua maioria estudantes universitários presentes... gostei disso e espero que seja um sinal de maior participação e activismo por parte dessa população.

Sunday, May 22, 2005

espaço e cultura!

Zygmunt Bauman, em 2001, a propósito da revista Space and Culture, uma frase que enquadra grande parte da reflexão sobre a reflexão epistemológica sobre o inter-relacionamento entre espaço e cultura, bem como sobre a reflexão em torno da Geografia Crítica Cultural.
“O espaço é o aspecto da condição humana mais fortemente afectado pela actual mudança cultural (‘cultural change’); e o factor que ao mesmo tempo mais fortemente influencia a direcção e a substância dessa mudança. Identificar, monitorizar e sistematizar a complexa interacção, e impacto mútuo, entre espaço e cultura é uma tarefa tão importante, quanto urgente, e que dificilmente terá um equivalente na agenda das ciências sociais”.

comunidade?

“A história e os costumes das comunidades gays se escrevem e sedimentam simbolicamente pouco a pouco. A articulação num ‘corpus’ partilhado por uma comunidade a construção de uma cultura comum é um processo que segue numerosas trajectórias como a de um afluente, um pequeno riacho que vai parar a outro de maior tamanho, o qual por sua vez acaba desembocando numa grande estrutura fluvial.”
Homografias de Ricardo Llamas e Francisco Javier Vidarte

PS: Amanhã coloco as minhas notas sobre o debate "a Homofobia e a Universidade"...desculpem pelo atraso mas o tempo cada vez mais escasseia!

Friday, May 13, 2005

a Homofobia e a Universidade



“a Homofobia e a Universidade” debate
Teatro Académico Gil Vicente, Café-Teatro, 16 de Maio 18:00


Organização:
- não te prives - Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais
- Pelouro de Intervenção Cívica da Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra

Debate em torno da homofobia na comunidade universitária, na educação com apresentação de recentes estudos realizados neste área

Participantes:
- Henrique Pereira, psicólogo e professor da Universidade da Beira Interior
- Carmo Marques, mestranda em “Educação, Género e Cidadania” da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação
- Paulo Jorge Vieira, não te prives – Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais, estudante da Universidade de Coimbra
- Moderação a cargo de um membro da Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra

Saturday, May 07, 2005

7 horas, uma madrugada

Depois de uma noite da Serenata mal dormida nada melhor do que deitar-me bem cedo (cerca das 20 horas) e dormir até não pode mais…
Acordei no entanto cedo, e resolvi sair para tomar o pequeno-almoço e ir ao meu local de trabalho resolver umas coisas antes da viagem para Lisboa que terei que fazer hoje.
Comi algo na baixa e subi para a alta da cidade. No Arco de Almedina reparo num jovem que me olha com algum espanto e que apesar de ir à minha frente vai ficando um pouco para trás.
Segue as minhas passadas e vencidas que estavam as Escadas do Quebra Costas , já no Largo da Sé Velha pede-me lume.
Começa ele então uma conversa:
- "Então, vens do Parque?"
- "Não. Acordei agora e vou para o meu trabalho." – respondi.
Curiosamente a conversa foi subindo a Rua das Covas e por lá ele contou-me que estuda engenharia mecânica; que vinha da primeira Noite do Parque; e que a sua vontade de ir para casa era nula.
Perguntou-me entretanto duas vezes se me estava a aborrecer.
Afirmei que não, que poderíamos conversar… sobre o que ele quisesse
Resolveu então fazer algumas perguntas sobre mim. Falei-lhe do meu trabalho e deste projecto sobre homossexualidade e a cidade de Coimbra. Terei talvez sido “agressivo” no modo como fiz publicidade ao facto de estudar “homossexuais”.
Ele olhou para mim, e perguntou-me se era homossexual. Dada a resposta questionou-me sobre como é “ser gay”; o que sinto por um homem; como sinto o desejo sexual; e outras curiosidades que um homem “hetero” sempre tem…
Parecia-me “curiosa” a curiosidade dele!
Deixei-me levar pela conversa…
Em determinado momento o jovem resolveu começar a falar de si… e da sua vida. Tendo terminado, à alguns meses, uma relação com uma namorada, “lá da terra” que durava desde os 16 anos… sente uma estranha solidão que “neste momento me faz afastar todas as mulheres que se aproximam de mim". Falou-me dos seus desejos, das suas necessidades de prazer sexual e das dificuldades com a antiga namorada. Como estávamos junto à sé Nova senti-me um confessor…
Mas, em determinado momento o R. ( o seu nome está na minha memória) disse-me algo que me deixou surpreso: “Tenho vontade de te beijar”. Disse e aproximou-se de mim… parei a sua mão (e o seu corpo) e disse-lhe que era impossível aquele beijo acontecer.
Explicadas as razões para tal, questionei-o sobre esse seu desejo. Contou-me que desde muito jovem que sente um forte desejo sexual para com o corpo masculino. Contou-me que tem tentado negar isso e que a namorada “era uma forma de lutar contra esse meu desejo, mas agora que estou sozinho fico louco com determinadas situações e determinados tipos”.
Falei-lhe da necessidade de ele construir dentro de si certezas (seja o que isso for) em torno da sua orientação sexual. Falei-lhe da possibilidade de conviver com outros homossexuais na “não te prives” ou na “rede ex aequo”. Falei-lhe do perigo daquele tipo de abordagem que ele fez, da necessidade de se preservar, sem que isso signifique esconder os seus sentimentos, mas sim “cuidar de si”.
Continuámos a conversar por mais meia hora e combinámos um telefonema ou um café daqui a dias….

Senti um carinho especial pelo R.
Pergunto-me mesmo quantos mais R’s haverá por esta cidade?
Quantos deles, bebido um copo a mais durante a Queima, ao nascer do Sol quebrarão barreiras, sem avaliar o passo que estão a dar?


PS: disse-lhe que escreveria sobre este encontro… e ele disse-me que leria curioso

Friday, May 06, 2005

… e as claves

Pois é, na “música” que “compus” anteriormente da noite da Serenata em que dei as “notas” … esqueci as “claves”…

… de sol

Algures na noite vi o F.
F. é um jovem que conheço à longos anos.
Recordo que a primeira vez que o vi, terá sido em 2000, ele era um jovem adolescente ao engate na “estação nova”. Ao longo destes anos fui encontrando-o na cidade… até que no ano lectivo passado o vi pela primeira vez de traje.
Era portanto estudante da Universidade, e como o encontro muito no Departamento de Matemática, deduzo que seja aluno da Faculdade de Ciências.
Isso pouco importa… pois a “marca” dele é-me dada pelo exagero… do seu modo de estar, da sua imagem, mas acima de tudo pelo facto de frequentemente o encontrar alcoolizado.
A quantidade de vezes com que isto acontece, levou-me à alguns meses a pedir ajuda a uma amiga comum.
O que sei hoje sobre a história de F. é exemplificativo da discriminação, no seu estádio mais gritante.
Enquanto jovem adolescente, F. foi um aluno brilhante e cedo descobriu a sua homossexualidade. Contou aos pais… e foi expulso de casa, sendo salvo pela avó paterna.
Filho de “famílias abastadas” continuou a estudar… mas a tristeza apoderou-se dele. Sofre… sofre por causa da homofobia que o foi afastando da família!
Ontem meti conversa com ele. Passava junto a minha casa, cambaleava… Ofereci ajuda e o seu olhar ficou espantado ao reparar em mim…
Recordava-se de mim e relembrava uma conversa que tínhamos tido sobre homossexualidade nas escolas e homofobia.
Perguntei-lhe como estava? Ele chorou… chorou e pediu-me que o acompanhasse até ao táxi.
Assim o fiz!

… de fá

Serão as práticas sexuais em espaços públicos negativas? O discurso sobre a sexualidade, em particular a homossexual, em espaço público tem sido objecto de muita tinta, e alguma moral!
Na minha opinião o sexo em lugares públicos não deverá, à partida, ser considerado uma experiência negativa ou um problema em si mesmo. Na realidade pode ser para muita gente uma agradável e excitante actividade.
Alguns autores colocam alguns problemas entre eles a questão da ofensa a uma ética ou moral, ou ainda questão da existência de “resíduos” que poderão funcionar como fonte de poluição… quem não recorda aqueles recantos nas matas cheios de preservativos?
Mas ironias à parte, existem duas questões que este tipo de práticas me suscita: a segurança pessoal e a homofobia; e a saúde mental e o comportamento obsessivo.
A questão da segurança pessoal é extremamente importante pois a população homossexual, em particular, está vulnerável a ataques homofóbicos – as situações em Viseu podem se enquadra neste tipo de violência? – que habitualmente marcam este tipo de espaços.
Uma outra questão está relacionada com o facto de que o ‘cruising’ e o ‘cottaging’ podem em alguns casos se transformar em comportamentos obsessivos que esvaziam as práticas sexuais e causam mal-estar.

Surgiu esta reflexão sobre as praticas sexuais em espaço público devido a uma situação por mim vivida ontem.
Quando visitei a “beira-rio” com um dos meus informantes… reparámos que junto ao Estádio Universitário um carro parecia “ocupado”.
Passámos e ficámos atónitos…
Sem moralismo: um homem e uma mulher em pleno acto sexual não dentro do carro mas sim no “capon” do veiculo – um Mercedes – , com direito a pormenores ‘interessantes’ numa lógica de exibicionismo que foi uma novidade para mim!
Pensei: ok… são livres de o fazer…!

Mas, e se fossem dois homens? Ou duas mulheres?

As Notas da Serenata


A Serenata da Queima está para começar. Como estou ainda em frente ao computador resolvi ir ver como estava a "sala" onde se encontram as pessoas que no “centro de Portugal” estão “on line” no “Gaydar". Esperava que estivessem poucas. Mas não, estão o valor médio de 40 o habital para a meia-noite de um dia de semana. Pelos “nicks” são os habituais… nada de novo… resolveram não ir à Serenata!


São 0h e 30m… alguns estudantes ainda se encaminham, tal como eu, para o largo da Sé Velha mesmo sabendo que desde as 22h que, por lá, não deve haver espaço…
Olho e vejo um grupo, (alcoolicamente) animado, imitando os trejeitos do José Castelo Branco e ironizando com um jovem colega.
Ele cora… olha para mim… e percebo… mais um homossexual que vive o seu primeiro ano em Coimbra, que hoje vestiu o traje pela primeira vez e que tenta, também pela primeira vez, (re)conhecer a mítica festa dos estudantes.
Continuam com a brincadeira enquanto descem "animados" a rua das Covas.

Mi
Acabada a Serenata foi tempo, dos milhares de estudantes da cidade inteira, se dirigirem para os diferentes “convívios” que com algumas mudanças de figurino nos últimos anos - estes grandes eventos da academia coimbrã que são os “convívios da queima” - realizam-se no espaço do Pólo I da Universidade.
Assim cerca da 1h e 30m o Pátio das Escolas e a Rua Larga estavam atapetados de uma escuridão de trajes e capas negras. A alegria era grande: os jantares regados com vinho de má qualidade, e as cervejas que se vendem por todo o lado – uma mercearia nas traseiras da Sé Velha transformou-se num bar - durante estes dias ajudavam a alegria!


Vagueio… encontro alguns dos meus informantes – se bem que nenhum me tenha confirmado a sua ida ao Largo da Sé assitir à Serenata – e curiosamente nenhum deles trajava.
Questão: será o traje académico – símbolo da homófoba e sexista praxe - um coisa de heterossexuais? Ou será que numa noite tão animada os meus informantes preferiram o modelito da moda!
Questionei alguns deles: as duas hipóteses surgiram mas, ironia, ninguém assumiu a dupla.
Bebo uma cerveja, converso e danço com alguns dos meus informantes no convívio junto à Sé Nova!

Sol
Nesta noite o Quebra Costas também está diferente, perdeu a sua clientela habitual que terá com certeza fugido para outros locais mais afastados da Sé Velha. Um amigo que encontro relembra que o “cliente tipo” do Quebra “é pouco de praxe, de traje e de fados”.
A verdade é que são muitas as pessoas da cidade que neste fim-de-semana vão para a Figueira da Foz ou para outro local mais longínquo, tentando escapar à "loucura" que avassala a cidade.


Com um dos meus informantes - profissão liberal e de meia-idade - vou à “beira-rio”… claro que tem muitos carros estacionados. Os milhares de estudantes que agora dançam nos convívios precisavam estacionar em algum sítio e a "avenida" é perfeita pelo acesso facilitado à baixa da cidade.
Esse facto serviria para afastar os homossexuais "noctívagos" do seu local de engate preferido?
Sim! E não!
Sim porque evidentemente se afastaram da avenida junto ao Estádio Universitário deslocando-se para a “estrada do rio”.
Não! Porque o álcool ingerido nesta noite pode sempre levar uma estudante mais “destemido” a enveredar por uma visita ao local de “cruising” da cidade. Significa isto que, apesar de menos ostensivamente presente junto ao Estádio, os homossexuais vão dando “fortuitos pulos” e "passeios" por aquele espaço!


Si
O sol nasce num dia que se prevê muito quente! Na Rua Larga copos de plástico e muita sujidade… e... alguns corpos, cansados e extenuados, no banco ou nas escadas dormem…
Um dos meus informantes conversa animado com um jovem… a lógica é simples... uma última tentativa de engate!

Thursday, May 05, 2005

queima

Falar da cidade de Coimbra e das suas dinâmicas sócio-espaciais sem falar da Queima das Fitas seria estranho?
Talvez não… mas a minha ideia para os próximos dias é acompanhar com um olhar etnográfico a edição deste ano da Queimas das Fitas…

Esta festa anual constitui um momento em que as vivências de parte da população da cidade, em particular os mais de 30 mil estudantes do ensino superior, são marcadas pela festa, pela alegria, mas também pelos copos e por alguns exageros!

Por isso a Serenata, o Cortejo e o Parque serão alguns dos espaços por onde andarei nos próximos dias… mas já agora… querem-me dar alguma dica de alguma coisa que valha a pena observar?

Coimbra VS Toronto

Eu sei que o proximo texto é longo... mas é apenas mais um dos documentos muito interessantes que um dos leitores - Ricardo - deste blog me enviou

Coimbra VS Toronto
Uma comparação de extremos



Embora incomparável em termos de dimensão geográfica, visto Coimbra caber num qualquer cantinho de Toronto, será interessante comparar a vivência citadina e como é ser gay numa cidade e noutra.
Toronto é uma cidade nova com pouco mais de 200 anos de existência, bastante moderna e cosmopolita, esteticamente bonita e situada à beira do lago Ontário o que lhe dá um encanto especial.
Toronto de certa forma esta divida por zonas relacionadas com a etnia dos habitantes onde temos a sensação de estar no pais de origem dos habitantes, há a zona junto ao aeroporto internacional maioritariamente habitada por paquistaneses e indianos (á chegada ao aeroporto é normal ver homens de turbante por todo o lado e achar que aterramos no pais errado, os Canadianos brincam dizendo que eles são um pouco preguiçosos e quando chegam ao país por ali ficam…), depois temos a zona africana, o bairro dos judeus, o bairro italiano (little Iltaly), o bairro chinês (China Town), o bairro português (little Portugal) e finalmente o grande centro onde convergem e se misturam todas as raças possíveis e imaginarias, é normal encontrar combinações genéticas estranhíssimas.
Apesar de toda esta diversidade genética e cultural o ambiente citadino é fantástico e saudável, reina o civismo, o respeito pela diferença, o respeito pelo próximo, em qualquer “Coffee Shop” convivem executivos de fato e gravata, góticos, homossexuais extravagantes e o grupo de avozinhas que foi tomar o seu chá, todos em perfeita harmonia e sem olhares de indignação ou reprovação, tudo é banal.
Coimbra é uma cidade pequena, antiga, com muita história, muito bonita mas também conservadora, dominada por senhores “doutores”, betinhos e estudantes. E tudo o que for um pouco diferente nem sempre é bem aceite, reina a tradição e os bons costumes e não há lugar para a diferença, ser diferente em Coimbra é ser alvo de olhares e comentários por isso não resisto, provocado por alguém, a fazer a seguinte comparação temporal (um pouco autobiográfica) entre a vivência gay em Toronto em 1996 e a vivência gay em Coimbra actualmente e perceber o quanto estamos atrasados no tempo.

Estando eu em 1996 ainda em fase de “coming out”, antes de aparecer a Internet e sem acesso em Portugal a qualquer tipo de informação sobre homossexualidade, excepto uma telenovela brasileira que abordava o assunto com um casal gay e um documentário estranho e pouco elucidativo sobre homossexualidade ambos exibidos na SIC, decidi ir à descoberta do mundo gay numa cidade que já conhecia bem e sabia mais liberal.

Toronto, Agosto de 1996

Qual o meu espanto ao ver diariamente na televisão em canais nacionais talk-shows a abordarem assuntos como a homossexualidade e a transexualidade com a maior naturalidade e com gays assumidos a falar livremente e sem cara tapada como acontecia em Portugal.
Nos meus passeios pela cidade era frequente encontrar nas ruas, nos shoppings, nos coffee shops grupos animados de gays (facilmente identificáveis), ou casais gay a passear de mão dada ou a trocar afectos com a maior naturalidade e sem terem toda a gente a olhar para eles, eu era de facto o único que olhava pasmado, nem queria acreditar que havia tanta liberdade e que toda a gente achasse aquilo natural, as pessoas eram simplesmente indiferentes, senti que estava noutro planeta.
Numa noite quente resolvi passear de carro com o meu irmão pela cidade, descobri a Church street (zona gay de toronto) uma rua cheia de bares gay muito animada, em cada porta uma bandeira arco-íris (que na altura desconhecia mas entendi ser o símbolo), viam-se gays pela rua, grupos de rapazes animados a dançar nos bares. Embora não o pudesse fazer por receio do meu irmão descobrir, eu sabia pela primeira vez na vida onde encontrar gente como eu, um sítio onde eu podia ser como sou sem ser discriminado, julgado, apontado.
Nessa mesma noite um@ transexual prostitut@ que eu julgava ser uma prostituta ao ver-me pendurado na janela do carro com ar de curioso a observar tudo dirigiu-se a mim dizendo “Hi babe, wanna have some fun?”, fiquei em estado de choque, nunca tinha visto um transexual!
Embora como mero observador durante a minha longa estadia foi percebendo que em Toronto ser gay era uma coisa natural, que havia uma comunidade gay, que havia espaço para ser diferente, soube que li eu podia ser eu próprio sem medo mas ainda faltava a coragem, afinal era um mundo desconhecido.

Foi um pouco duro ter de voltar para Portugal e voltar à ignorância e ter de conhecer o meu primeiro namorado por anúncio de jornal…
Desde então não voltei a Toronto mas pela minha ligação sentimental à cidade e ao país tenho-me mantido minimamente informado, actualmente já é possível o casamento entre gays na província de Ontário e este ano Toronto comemora 25 anos de pride. Como eles dizem “25 years and counting!”( www.torontopride.ca)

Coimbra, Actualidade

Comunidade gay não sinto que exista de facto, toda a gente conhece toda a gente mas toda a gente finge que não e todos se escondem e o engate é feito na Internet ou no local de engate mais próximo (e mais escondido de preferência).
Locais onde possa conhecer alguém também não existem, tirando os conhecidos locais de engate, que eu não frequento e com os quais não me identifico assim como grande parte dos gays de Coimbra.
Bares gay também não há, temos o quebra mas conhecer alguém lá é quase impossível, esta toda a gente muito fechada na segurança do seu grupinho ou com o colega a comentar sobre o outro grupinho ou casal de amigos igual que esta ao lado, a tal homofobiazinha interiorizada.
Atravessar a baixa ou a praça da república de mãos dadas com um rapaz seria um suicídio social e teria a rua ou a praça inteira a olhar para mim e a fazer comentários como se tivesse cometido um crime brutal. Se quiser trocar afecto com algum rapaz em publico tenho de o fazer ás escondidas ou não fazer de todo, apesar de ser assumido como gay, não fica bem e em Coimbra isso não é aceitável.
Temos a não te prives, onde supostamente se poderia ter uma convivência saudável entre gays mas que parece não ter espaço em Coimbra, ate porque “alguém pode descobrir que eu pertenço à não te prives e ainda ficam a saber que eu sou gay”, prefere-se criticar, muitas vezes nem sabendo do que se trata, ou ir a uma tertúlia uma vez para depois voltar para o armário “porque afinal aquilo tem lá maricas e eu sou muito macho!”, e também “não é um bom sitio para engatar”…
Realizar um pride em Coimbra é impensável, se uma simples festa queer gerou tanta polémica e todos os gays da cidade ou ficaram em casa ou foram para fora, imagino uma pride...
Em Coimbra tal como muitos outros gays estou limitado à Internet e ao convívio com alguns conhecidos gays, o meu grupinho, que se calhar de meu não tem nada, e tudo isto muito discretamente senão ate o grupinho desaparece, torna-se difícil ser-se gay em Coimbra.

Há 9 anos atrás quando regressei de Toronto tive a sensação que recuei no tempo e parece que por lá fiquei, embora haja mais abertura a evolução não foi muito grande.
Amo Coimbra assim como amo Toronto, Coimbra porque é a minha cidade e aqui esta a minha historia, as minhas raízes e recordações, Toronto porque me apaixonei por uma cidade bonita e liberal e sei que lá poderia viver livremente como gay, mas se tivesse oportunidade de escolher viver em Coimbra ou viver em Toronto escolheria sem hesitar viver em Toronto…

Wednesday, May 04, 2005

o desafio

Lançado o desafio à alguns dias recebi já algumas respostas de leitores!
O Mondeguino enviou-me este texto de que gostei muito, e que partilho com vocês...

Ok. Aceito o desafio embora não perceba muito bem qual a utilidade que possa ter. Uma nova perspectiva da questão? Um novo ponto de observação? Inquérito velado a quem te lê e não se dá? Bom, tanto faz... Prefiro encarar o repto como uma forma criativa de repescares os silenciosos e dares voz aos calados. Após o exercício de me tentar colocar no teu lugar até posso achar que é lícito. Afinal tu expões-te, partilhas, arriscas. Quem te espreita? Quem te anda a cuscar?! De que cor são os olhos de quem te lê?! Que idade terá? É... talvez seja por aí...

Muitos anos de heterossexualidade fizeram de mim homossexual rendido aos prazeres das masculinas carnes. Nem se aplicará a forma bissexual da questão porque, confesso, depois de consumada a tentação, não mais regressei. Por outras palavras, fiquei de quatro. Adiante.

Coimbra. Ai... Coimbra. Mil vezes PORRA... Coimbra.
Não nasci por cá. Os azimutes da vida em bússulas loucas de giração trouxeram-me cá (há 30 aa, mais precisamente). Talvez por isso tenho a veleidade de imaginar que sou mais objectivo, que em nada me comparo com os coimbrinhas, que não sou um deles. Por falar nisso, achei piada ao teres utilizado, algures, este termo. Sempre o usei e ele existe, isto é, tem forma e característica. É um cromo e tanto!
Mas isso só vem ao caso por enquadramento e, portanto, avancemos...

A cidade, em si, é uma eterna contradição. Se por um lado é tradicional e vaidosa, por outro, tem uma população jovem, flutuante, de 20.000 marmanjos. Dos professores-dótores nada posso esperar. As doutas opiniões não são conhecidas publicamente, podem dar belíssimas aulas mas não participam na vida visível da cidade. Não são criativos nem arriscam o seu dinheiro em saltos de investimento. Nem sequer são lobby por que não têm um "clube", não se falam nem se encontram.
Do pessoal mais jovem esperaria tudo. Queria que me vingassem na loucura dos sangues fervilhantes que, por falta de rasgo ou coragem, não tive. Chegam, arrendam quartos, estudam por fotocópias, saem numa ou noutra noite, caem de bêbados durante uma semana no ano, formam-se e vão embora. Nada acrescentam à cidade. Daqueles 20.000 gostaria de ver criatividade, arte, teatro... PORRA, uma movida, uma "merda" qualquer! Nada. Transportando esta realidade para o plano do teu desafio diria que é igual, ou seja, paralelo.
Imagino que deverá existir um mundo professor-dótor-gay, algures escondido nos gabinetes, às escondidas das respectivas esposas. Se quiser apimentar a cena posso imaginar, até, algum requinte, tipo grupo secreto, em que os personagens vão rodando, para não cansar.
Quanto aos outros, o pessoal que eu gostaria que fosse mais marado, irremediavelmente NADA. Devem "foder" nos carros, algures pelo miradouro do Vale do Inferno (isto apenas por hipótese porque, quando lá fui mostrar a cidade a um casal amigo, eles fizeram-me notar as camisinhas, pelo chão). E pouco mais. Nos quartos uns dos outros, em visitas furtivas, não devem ser muitos os casos porque o colega do lado vê, ou a moça do apartamento ao lado, sei lá...
Isto para concluir que não vejo, não percebo, nesta cidade, qualquer comunidade gay. Não sei de casais homo que se assumam, que vivam normalmente, que convivam com outros, quer homo, quer hetero. Que sejam "visíveis" na forma mais natural e saudável de encarar as coisas. Fique claro e perceptível: por opção, não frequento locais atípicos e afins. Como diria uma pessoa minha conhecida - locais "temáticos", eh, eh, eh. Nada contra eles, é claro. É apenas uma opção minha, de estilo de vida, de feitio, de invisibilidade e de preservação da imagem. Tenho a cabeça resolvida comigo mesmo e isso, até agora, tem bastado. No raio desta cidade digo - não há condições (que condições? Não é suposto sermos nós a fazê-las, a mudá-las???). Porém, vou
tentando apanhar o que posso.Por ti fiquei a saber que Coimbra-B é local de engate. Até costumo lá ir Domingo à tarde para levar uma ou outra pessoa ao comboio. Nunca
dei por nada. Se calhar é porque só em situação de emergência utilizo os sanitários públicos...
Sei o que já disseste: o vai-e-vem na beira rio com sinalefas de luzes (alguém já me garantiu que a maior parte do pessoal que lá anda nem é de Coimbra...); da conotação do Kebra (nunca lá fui...). Não sei o que é engate de rua porque nunca assisti. Restam-me as tuas experiências relatadas que, às vezes, espreito...
Esta cidade cheira a mofo e água parada. Não tem "movida", não é cosmopolita quando tem condições para o ser. Às vezes parece que não respira, sequer. Mais rico que a cidade serás tu, pela entrega e pela partilha. Mais rico fico eu quando te leio.

Tuesday, May 03, 2005

controlo da sexualidade e espaço público

Sabemos e já o referi aqui que determinados espaços públicos e semi-públicos (bares, estações de caminhos de ferros, espaços universitários e centros comerciais) “funcionam”, - ou se quisermos adquirem uma nova funcionalidade – como locais de encontro homossexual.
Um olhar sobre a questão do encontro homossexual no espaço público urbano pode nos dar uma visão característica de algumas práticas sociais.
Como já por aqui referi os domingos pela tarde são na “Estação Nova” (Coimbra A para os não “coimbrinhas”) bastante “animados” como local de encontro homossexual.
No domingo passado resolvi ir por ali uma “horita” observar… cheguei e a coisa estava muito calma, muito pouco “pessoal”.
Questionei-me mesmo sobre o que se passava pois em nada era habitual aquela calma… pensei inclusive que a chuva que se tinha batido sobre a cidade de manhã tivesse levada a “gayzada” a ficar em casa.
Depois percebi… um segurança!
A CP tem um contrato com uma daquelas empresas de segurança que pululam por todo o lado. Os “senhores” da empresa, habitualmente jovens atléticos, mantém habitualmente um ritmo de vigilância ao WC. Normalmente essa vigilância é feita de um lugar, afastado uns 30 metros, de onde os mesmos têm uma visão panóptica sobre quase toda a estação. Deste modo controlam as estradas e saídas e outro tipo de movimentos.
Mas no domingo a coisa estava estranha! O segurança de serviço, um trintão barrigudo, com um “olhar de tarado” agia de um modo distinto: com uma frequência elevada (de 5 em 5 minutos) dirigia-se à porta do WC e entrava por breves segundos…
Era tão óbvia a vontade de controlar os homossexuais presentes nos diferentes espaços da estação que a sua presença e modo de agir quase roçava o “ridículo”.
Passeava-se, sempre em torno da plataforma onde se situam a WC, olhando ostensivamente para as pessoas, tentando aparentemente descortinar os homossexuais presentes, numa lógica de controlo… que me fez sorrir!
Nesta tarde pouco mais existiu… até que ele foi embora… do que um grupo de “gays” perdidos e a tentarem perceber como poderiam fugir àquele controlo apertado…