Tuesday, May 24, 2005

Mais uma história…

Há alguns dias pedi para me enviarem textos (podem continuar e enviar para o mail pjovieira@yahoo.com) sobre as vossas experiências em torno da homossexualidade na cidade de Coimbra.
Aqui vai mais um exemplo , desta feita, do Miguel Fernandes!


Descobri a minha bissexualidade já quase no final da adolescência, embora desde cedo tivesse começado a perceber que havia «algo».
Sou do sotavento algarvio, local de ilhas arenosas e praias quase
desertas... sempre fui um amante da natureza, de locais belos e pouco frequentados, por isso quando não tinha nada que fazer ao fim de semana pegava na bicicleta e lá ia para a ria e para a praia à procura de plantas dunares raras, camaleões e aves costeiras de zonas húmidas... inicialmente a minha ingenuidade não percebia o que sucedia nas dunas, mais tarde descobriria que aquelas praias estavam inscritas em tudo quanto é roteiro homo, nacionais e internacionais...
Mais tarde, já antes de vir estudar para a uni, continuei a lá ir, não apenas pelo ambiente mas porque me sentia bem ao passear à beira mar e ser fitado por insinuantes olhares de rapazes e homens que me atraíam fisicamente.
Recordo-me do primeiro rapaz que me abordou... passou ao meu lado a correr, ficou a olhar para trás, deu a volta e perseguiu-me sem eu notar... mergulhou depois ao meu lado, e muito nervoso, perguntou-me as horas, de onde era, se podia conversar comigo... respondi de forma seca, não estava de certa forma preparado para a situação, e ele educadamente não se cansou de pedir desculpas pela situação e partiu... Ali via-se de tudo... reconhecia o rosto de homens casados, adolescentes como eu, possíveis reformados, estrangeiros e até uma ou outra cara conhecida dos media...

Quando vim para Coimbra estava decidido a experimentar de vez «o outro lado»... conheci pelo chat da TV um sujeito que se intitulava um dos melhores alunos do seu curso, dotado de uma extensa cultura geral mas também de uma extrema arrogância e falta de simplicidade, que o levavam a ter um modo de vida nada típico num estudante deslocado que incluía vestir apenas alta costura ou frequentar os melhores restaurantes... inicialmente não entendia donde vinha o dinheiro... mais tarde percebi, quando acordei da ingenuidade e descobri que me enganava.

Na realidade por baixo dos bons costumes desta cidade de doutores e betos esconde-se uma promiscuidade bem activa, patente no chá da beira rio ou nos WC da universidade. Descobri recentemente através doutra pessoa um mundo que envolve trocas de olhares na rua, perseguições, mensagens nas portas de WC's, o “chá”, a Gala e Mira, enfim, tudo acontece afinal à nossa volta mas ninguém o admite. Coimbra, centro do centro- norte, é ponto de passagem obrigatório no chá para quem vem de Fátima, Covilhã, Aveiro, Leiria e até Lisboa e Porto. Os de cá, da cidade, sabendo a reputação do sítio, preferem outros meios: os bares no Porto, as praias da Gala e de Mira, os chats e de modo mais discreto as ruas da Baixa, O Quebra-Costas, o Quebra-Club e a Via Latina ao fim de semana.

Já fui algumas vezes abordado na rua; uma vez, tinha tanta curiosidade que me levaram ao chá; algum tempo depois, na Via Latina, sorriam para mim os rostos que me reconheciam de ver no carro naquela estrada uma hora antes.

As teias da promiscuidade são perigosas. Felizmente, já vi que chegue e não tenciono entrar nelas.

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