Thursday, May 05, 2005

Coimbra VS Toronto

Eu sei que o proximo texto é longo... mas é apenas mais um dos documentos muito interessantes que um dos leitores - Ricardo - deste blog me enviou

Coimbra VS Toronto
Uma comparação de extremos



Embora incomparável em termos de dimensão geográfica, visto Coimbra caber num qualquer cantinho de Toronto, será interessante comparar a vivência citadina e como é ser gay numa cidade e noutra.
Toronto é uma cidade nova com pouco mais de 200 anos de existência, bastante moderna e cosmopolita, esteticamente bonita e situada à beira do lago Ontário o que lhe dá um encanto especial.
Toronto de certa forma esta divida por zonas relacionadas com a etnia dos habitantes onde temos a sensação de estar no pais de origem dos habitantes, há a zona junto ao aeroporto internacional maioritariamente habitada por paquistaneses e indianos (á chegada ao aeroporto é normal ver homens de turbante por todo o lado e achar que aterramos no pais errado, os Canadianos brincam dizendo que eles são um pouco preguiçosos e quando chegam ao país por ali ficam…), depois temos a zona africana, o bairro dos judeus, o bairro italiano (little Iltaly), o bairro chinês (China Town), o bairro português (little Portugal) e finalmente o grande centro onde convergem e se misturam todas as raças possíveis e imaginarias, é normal encontrar combinações genéticas estranhíssimas.
Apesar de toda esta diversidade genética e cultural o ambiente citadino é fantástico e saudável, reina o civismo, o respeito pela diferença, o respeito pelo próximo, em qualquer “Coffee Shop” convivem executivos de fato e gravata, góticos, homossexuais extravagantes e o grupo de avozinhas que foi tomar o seu chá, todos em perfeita harmonia e sem olhares de indignação ou reprovação, tudo é banal.
Coimbra é uma cidade pequena, antiga, com muita história, muito bonita mas também conservadora, dominada por senhores “doutores”, betinhos e estudantes. E tudo o que for um pouco diferente nem sempre é bem aceite, reina a tradição e os bons costumes e não há lugar para a diferença, ser diferente em Coimbra é ser alvo de olhares e comentários por isso não resisto, provocado por alguém, a fazer a seguinte comparação temporal (um pouco autobiográfica) entre a vivência gay em Toronto em 1996 e a vivência gay em Coimbra actualmente e perceber o quanto estamos atrasados no tempo.

Estando eu em 1996 ainda em fase de “coming out”, antes de aparecer a Internet e sem acesso em Portugal a qualquer tipo de informação sobre homossexualidade, excepto uma telenovela brasileira que abordava o assunto com um casal gay e um documentário estranho e pouco elucidativo sobre homossexualidade ambos exibidos na SIC, decidi ir à descoberta do mundo gay numa cidade que já conhecia bem e sabia mais liberal.

Toronto, Agosto de 1996

Qual o meu espanto ao ver diariamente na televisão em canais nacionais talk-shows a abordarem assuntos como a homossexualidade e a transexualidade com a maior naturalidade e com gays assumidos a falar livremente e sem cara tapada como acontecia em Portugal.
Nos meus passeios pela cidade era frequente encontrar nas ruas, nos shoppings, nos coffee shops grupos animados de gays (facilmente identificáveis), ou casais gay a passear de mão dada ou a trocar afectos com a maior naturalidade e sem terem toda a gente a olhar para eles, eu era de facto o único que olhava pasmado, nem queria acreditar que havia tanta liberdade e que toda a gente achasse aquilo natural, as pessoas eram simplesmente indiferentes, senti que estava noutro planeta.
Numa noite quente resolvi passear de carro com o meu irmão pela cidade, descobri a Church street (zona gay de toronto) uma rua cheia de bares gay muito animada, em cada porta uma bandeira arco-íris (que na altura desconhecia mas entendi ser o símbolo), viam-se gays pela rua, grupos de rapazes animados a dançar nos bares. Embora não o pudesse fazer por receio do meu irmão descobrir, eu sabia pela primeira vez na vida onde encontrar gente como eu, um sítio onde eu podia ser como sou sem ser discriminado, julgado, apontado.
Nessa mesma noite um@ transexual prostitut@ que eu julgava ser uma prostituta ao ver-me pendurado na janela do carro com ar de curioso a observar tudo dirigiu-se a mim dizendo “Hi babe, wanna have some fun?”, fiquei em estado de choque, nunca tinha visto um transexual!
Embora como mero observador durante a minha longa estadia foi percebendo que em Toronto ser gay era uma coisa natural, que havia uma comunidade gay, que havia espaço para ser diferente, soube que li eu podia ser eu próprio sem medo mas ainda faltava a coragem, afinal era um mundo desconhecido.

Foi um pouco duro ter de voltar para Portugal e voltar à ignorância e ter de conhecer o meu primeiro namorado por anúncio de jornal…
Desde então não voltei a Toronto mas pela minha ligação sentimental à cidade e ao país tenho-me mantido minimamente informado, actualmente já é possível o casamento entre gays na província de Ontário e este ano Toronto comemora 25 anos de pride. Como eles dizem “25 years and counting!”( www.torontopride.ca)

Coimbra, Actualidade

Comunidade gay não sinto que exista de facto, toda a gente conhece toda a gente mas toda a gente finge que não e todos se escondem e o engate é feito na Internet ou no local de engate mais próximo (e mais escondido de preferência).
Locais onde possa conhecer alguém também não existem, tirando os conhecidos locais de engate, que eu não frequento e com os quais não me identifico assim como grande parte dos gays de Coimbra.
Bares gay também não há, temos o quebra mas conhecer alguém lá é quase impossível, esta toda a gente muito fechada na segurança do seu grupinho ou com o colega a comentar sobre o outro grupinho ou casal de amigos igual que esta ao lado, a tal homofobiazinha interiorizada.
Atravessar a baixa ou a praça da república de mãos dadas com um rapaz seria um suicídio social e teria a rua ou a praça inteira a olhar para mim e a fazer comentários como se tivesse cometido um crime brutal. Se quiser trocar afecto com algum rapaz em publico tenho de o fazer ás escondidas ou não fazer de todo, apesar de ser assumido como gay, não fica bem e em Coimbra isso não é aceitável.
Temos a não te prives, onde supostamente se poderia ter uma convivência saudável entre gays mas que parece não ter espaço em Coimbra, ate porque “alguém pode descobrir que eu pertenço à não te prives e ainda ficam a saber que eu sou gay”, prefere-se criticar, muitas vezes nem sabendo do que se trata, ou ir a uma tertúlia uma vez para depois voltar para o armário “porque afinal aquilo tem lá maricas e eu sou muito macho!”, e também “não é um bom sitio para engatar”…
Realizar um pride em Coimbra é impensável, se uma simples festa queer gerou tanta polémica e todos os gays da cidade ou ficaram em casa ou foram para fora, imagino uma pride...
Em Coimbra tal como muitos outros gays estou limitado à Internet e ao convívio com alguns conhecidos gays, o meu grupinho, que se calhar de meu não tem nada, e tudo isto muito discretamente senão ate o grupinho desaparece, torna-se difícil ser-se gay em Coimbra.

Há 9 anos atrás quando regressei de Toronto tive a sensação que recuei no tempo e parece que por lá fiquei, embora haja mais abertura a evolução não foi muito grande.
Amo Coimbra assim como amo Toronto, Coimbra porque é a minha cidade e aqui esta a minha historia, as minhas raízes e recordações, Toronto porque me apaixonei por uma cidade bonita e liberal e sei que lá poderia viver livremente como gay, mas se tivesse oportunidade de escolher viver em Coimbra ou viver em Toronto escolheria sem hesitar viver em Toronto…

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Meu 1ano em coimbra, caloira e depressa me aprecebi k em coimbra nao a ha lugar para se ser gay.
Cabe-nos entao a nos dar o 1 passo embora nao faça ideia de por onde começar....

beijo

Friday, July 04, 2008 3:16:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

intiresno muito, obrigado

Friday, November 20, 2009 6:07:00 PM  

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