Saturday, May 07, 2005

7 horas, uma madrugada

Depois de uma noite da Serenata mal dormida nada melhor do que deitar-me bem cedo (cerca das 20 horas) e dormir até não pode mais…
Acordei no entanto cedo, e resolvi sair para tomar o pequeno-almoço e ir ao meu local de trabalho resolver umas coisas antes da viagem para Lisboa que terei que fazer hoje.
Comi algo na baixa e subi para a alta da cidade. No Arco de Almedina reparo num jovem que me olha com algum espanto e que apesar de ir à minha frente vai ficando um pouco para trás.
Segue as minhas passadas e vencidas que estavam as Escadas do Quebra Costas , já no Largo da Sé Velha pede-me lume.
Começa ele então uma conversa:
- "Então, vens do Parque?"
- "Não. Acordei agora e vou para o meu trabalho." – respondi.
Curiosamente a conversa foi subindo a Rua das Covas e por lá ele contou-me que estuda engenharia mecânica; que vinha da primeira Noite do Parque; e que a sua vontade de ir para casa era nula.
Perguntou-me entretanto duas vezes se me estava a aborrecer.
Afirmei que não, que poderíamos conversar… sobre o que ele quisesse
Resolveu então fazer algumas perguntas sobre mim. Falei-lhe do meu trabalho e deste projecto sobre homossexualidade e a cidade de Coimbra. Terei talvez sido “agressivo” no modo como fiz publicidade ao facto de estudar “homossexuais”.
Ele olhou para mim, e perguntou-me se era homossexual. Dada a resposta questionou-me sobre como é “ser gay”; o que sinto por um homem; como sinto o desejo sexual; e outras curiosidades que um homem “hetero” sempre tem…
Parecia-me “curiosa” a curiosidade dele!
Deixei-me levar pela conversa…
Em determinado momento o jovem resolveu começar a falar de si… e da sua vida. Tendo terminado, à alguns meses, uma relação com uma namorada, “lá da terra” que durava desde os 16 anos… sente uma estranha solidão que “neste momento me faz afastar todas as mulheres que se aproximam de mim". Falou-me dos seus desejos, das suas necessidades de prazer sexual e das dificuldades com a antiga namorada. Como estávamos junto à sé Nova senti-me um confessor…
Mas, em determinado momento o R. ( o seu nome está na minha memória) disse-me algo que me deixou surpreso: “Tenho vontade de te beijar”. Disse e aproximou-se de mim… parei a sua mão (e o seu corpo) e disse-lhe que era impossível aquele beijo acontecer.
Explicadas as razões para tal, questionei-o sobre esse seu desejo. Contou-me que desde muito jovem que sente um forte desejo sexual para com o corpo masculino. Contou-me que tem tentado negar isso e que a namorada “era uma forma de lutar contra esse meu desejo, mas agora que estou sozinho fico louco com determinadas situações e determinados tipos”.
Falei-lhe da necessidade de ele construir dentro de si certezas (seja o que isso for) em torno da sua orientação sexual. Falei-lhe da possibilidade de conviver com outros homossexuais na “não te prives” ou na “rede ex aequo”. Falei-lhe do perigo daquele tipo de abordagem que ele fez, da necessidade de se preservar, sem que isso signifique esconder os seus sentimentos, mas sim “cuidar de si”.
Continuámos a conversar por mais meia hora e combinámos um telefonema ou um café daqui a dias….

Senti um carinho especial pelo R.
Pergunto-me mesmo quantos mais R’s haverá por esta cidade?
Quantos deles, bebido um copo a mais durante a Queima, ao nascer do Sol quebrarão barreiras, sem avaliar o passo que estão a dar?


PS: disse-lhe que escreveria sobre este encontro… e ele disse-me que leria curioso

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