Monday, February 28, 2005

Um engate?

Também ontem depois da conversa com o Dimitri… resolvi continua a passear-me na baixa… ninguém conhecido. Nadá de especial se passa… vejo a montra da livraria Almedina… alimento a paixão pelos livros. São 13 horas e vejo um jovem com cerca de 25 anos (?), magro, olhos castanhos esverdeados, vidrados… demasiado vidrados!
Sigo pela rua Ferreira Borges e dirijo-me para as ruelas estreitas da “baixinha”.
Reparo que quase imperceptível, ele segue-me. Continuo a andar, a ver montras, mas com o "olhar de esguelha", lá reparo no jovem a mexer ostensivamente na “mala”… aparentemente está semi-excitado. Continuo a andar. O meu interesse por estas situações leva-me a olhar um pouco mais ostensivamente para ele… sei que esse é o caminho para conseguir falar com ele.
Ando por mais uma rua - a dos Sapateiros – e ele continua a seguir-me até que quebra o gelo fino – “o espectro mudo do engate”, diria Al Berto – e mete conversa comigo! A conversa decorreu na normalidade do engate, coisa feitas da (homo)sexualidade em Coimbra.
Perguntou-me ostensivamente se “curtia com gajos”, ao que respondi um semi-assustado “sim!”. Ofereceu-se para termos relações sexuais… por 20 euros. Seguiram-se um rol de afirmações de heterossexualidade, nomeadamente a de que o “sexo com gajos” é um modo de libertar tensões… e de conseguir umas "massas"!
Disse-lhe que não me interessava... que nunca o faria por dinheiro e propus-me ir embora… algum receio levava-me a ter cuidado. Encaminhei-me para Praça 8 de Maio e a conversa continuou centrada na vontade que ele expressava de ter sexo. Tinha quarto para onde irmos… não tinha sexo há mais um mês… que já não queria o dinheiro…
Disse-lhe que não e dirigi-me para casa.

Nas coisas do meu quotidiano de observação da comunidade homossexual em Coimbra fica a ironia de um tentativa de engate por um prostituto – um falso prostituto -. Não esperava isto… e pergunto-me que significado terá este tipo de encontro e vivência urbana na Baixa da cidade? E pergunto-me que significado terá este tipo de encontros nas identidades homossexuais?

Sunday, February 27, 2005

Dimitri

Chama-se Dimitri, é ucraniano e homossexual! Tem 32 anos e formação em história e ciências sociais, tendo feito um mestrado sobre os homens feministas na transição democrática “pós-queda do muro” na Ucrânia.
Trabalha num empresa de Coimbra, de entregas ao domicílio pela região centro.
Esta a viver em Portugal há três anos depois de uma passagem por França – Paris – Mal sucedida… recorda ter vendido o corpo para poder se alimentar.
Em Portugal trabalhou um ano como trolha ma área metropolitana de Lisboa… depois veio para Coimbra.

É domingo, fim da manhã… hora do almoço… vim “fazer observação para a baixa… queria perceber/observar que movimentos têm as ruas da baixa a esta hora e neste dia… E acabei por estar a ler Paul Claval na “estação nova”. Aquele olhar azul insistente chamou-me à atenção. E sabendo que a única forma de entrar em contacto com ele seria … no WC,,, segui-o. Nada se passou, mas acabámos por meter conversa… falámos mais de uma hora! Um pessoas interessante e interessada!

Procura conhecer, perceber a cidade de Coimbra em termos de homossexualidade. Tal como desconfiava conhece muitos outros homossexuais na comunidade imigrante… ou melhor ele reafirmou que existem práticas homossexuais nessa comunidade… mas nada que se compare com reais vivências homossexuais.
Diz que Coimbra é uma cidade estranha… recorda em Lisboa as idas mensais – que o dinheiro não dava para mais…- ao Finalmente e às saunas.
Pergunta-me porque Coimbra não tem espaços assim. Não consigo deixar de engolir em seco!
Espera conhecer alguém, português ou imigrante, se bem que prefira os primeiros, com quem possa partilhar construindo uma história de amor. Fala-me do namorado que ficou em Kiev, fala desse amor/relação que não resistiu à necessidade de imigrar.

Questionado sobre como “vive” a sua (homo)sexualidade em Coimbra… refere as vindas à “estação nova” nos sábados pela tarde e aos domingos! Dia que está farto de “actos rápidos” e que quer conhecer de facto alguém. Critica os homossexuais portugueses por não levarem a sério os imigrantes… “sinto-me um pedaço de carne branca, cabelo louro e olhos azuis”. Um crítica mordaz às vivências sexuais centradas no uso do corpo do “Outro”… neste caso o Eslavo Imigrante.
Pergunta-me repetidamente onde se encontram os homossexuais na cidade de Coimbra… tento-lhe explicar que não existindo nenhum espaço “assumidamente homossexual” a comunidade funciona como uma “rede de redes” de amizades, em que as pessoas se vão conhecendo através de amigos.

Fica como o meu numero… quero entrevistá-lo, mas acima de tudo gostava de o ajudar! Por isso exorto-o a que me ligue… tento convence-lo. Mas ele tem um olhar desiludido, pouco convencido da minha vontade de o ajudar…

Saturday, February 26, 2005

um café no Tropical

Um sábado… hora do café (uma caneta termina e é hora de mudar de cor!) Tropical. Praça da República
Três mesas, apenas, ocupadas! Em 7 pessoas, 5 homossexuais – não conto os empregados -. Um silêncio absurdo… mas com olhares que vão quebrando… que vão dizendo um pouco de tudo! Os olhares cruzam-se e perdem-se em algo! Perdem-se no silêncio que nos faz presentes…
Um silêncio que assusta pelo ruído de fundo que faz. Um silêncio só quebrado, estrondosamente, pelos olhares!
Sinto-me olhado… desnudado! Claro que o livro que leio encantado, sobre a mesa, não ajuda. Pleasure Zones, é uma obra colectiva com ensaios de David Bell, Jon Binnie, Ruth Holiiday, Robyn Longhurst e Robin Pearce. Cinco ensaios e uma bela introdução sobre “bodies”, “cities” e “spaces”.
Entretanto o vazio sonoro, ou silêncio continua presente… marcando a hora do café no Tropical – esse café/templo da cidade –!
Os 5 homossexuais continuam… a olhar-se! Eu, um casal – um deles é colega de casa do Miguel (o nome é naturalmente falso) – e dois outros amigos numa mesa com duas raparigas…
...cruzamos olhares e ficamos por isto! Apenas….

Friday, February 25, 2005

leituras

Nas últimas semanas tenho escrito… ou melhor tenho dedicado muito tempo a ler e a escrever sobre os caminhos da geografia social e cultural das sexualidades “pensando” os modos de construção do discurso geográfico sobre as sexualidades. Jon Binnie, Gill Valentine, David Bell entre tantos e tantas, outros e outras tem sido as minhas companhias… nas noite sem dormir! Mas a beleza terrífica das ideias vai estanbdo presente!
Mas outra novidade é que a observação de campo têm se mantido e o “mini inquérito” do meu trabalho circula também já nas ruas e praças da cidade…

Entretanto a coisa vai apertando e é tempo de dedicar mais tempo a este trabalho... a escrever mais por aqui! aver se a vontade e o tempo são geridos de melhor forma!