Tuesday, June 14, 2005

espaços seguros!

A situação que descrevi no post anterior tem me feito pensar bastante sobre a construção dos espaços de segurança no quadro das vivências “queer” em Coimbra.

A não existência de espaços oficialmente homossexuais na cidade, a existência de uma comunidade muito fechada e pouco visível, torna difícil a existência de espaços e vivências realmente seguras da violência homofóba.
Neste quadro a comunidade parece construir como espaços seguros os espaços centrais da cidade, nomeadamente aqueles de que ela se foi apropriando ao longo do tempo. Não é de todo estranho que grande parte dos meus informantes se sinta à vontade no Quebra-Costas e que este espaço se constitua para tantos como o verdadeiro “lugar de eleição na cidade”.

Em outras cidades são os bares e discotecas gays que se constituem como espaços de segurança, sendo que raramente esta segurança se denota também no espaço público. Um olhar sobre Lisboa faz denotar exactamente este aspecto: a maioria dos bares gays são na área do Príncipe Real, mas este bairro está longe de ser o espaço mais seguro para os homossexuais na capital. Interessante que ao nível das expressões publicas de carinho estas acontecem com mais frequência em espaços como o Bairro Alto ou o Chiado. Isto acontecerá devido ao efeito da multidão multicultural e cosmopolita que frequentemente estão neste espaços? É possível que assim seja...

Existem bastante referência contemporâneas na geografia urbana veja-se por exemplo o volume editado por Loreta Lees “The emancipatory city” editado em 2004 pela Sage - sobre as questões a seguralnça no espaço urbano, a violência e o medo, ou os crimes de ódio. Uma das autoras que tem dedicado alguma atenção a esta questão é a geógrafa urbana feminista Rachel Pain.

Pain publicou em 2001 um texto na revista Urban Studies intitulado “Gender, Race, Age anf Fear in the City” em que (re)visitou grande parte dos estudos realizados nesta área. Deste modo ela analisa como se constroi socialmente do medo da violência e do crime a partir de identidade sociais diversificadas. Reforçando a ideia de que “muita gente associa fortemente o medo com lugares específicos” (p.899), Pain salienta ainda que as identidades sociais, em que analisa o género, a raça e a idade, são potenciados por outros factores como classe, local de residência rendimentos, e também a orientação sexual.
Reforçando nesse sentido o papel que tem as diferentes formas de exclusão, nomeadamente os actos subcriminais, Rachhel Pain inclui nestes o assédio e segregação racista, sexista e homofóba (p.902) e que ela identifica como presentes nos diferentes espaços da cidade e “relembrando a algumas pessoas a sua vulnerabilidade ao crime a aumentando o medo.” (p.902).

O meu olhar sobre o acontecimento que me aconteceu nessa noite faz pois me recordar os modos insidiosos como o medo, a insegurança e o ódio fazem parte do meu quotidiano. Apesar de algum à vontade publico com a minha homossexualidade esta experiência acabou por ser mais marcante ao longo dos últimos dias do que esperava. Reflexivamente não sei que significado terá esta situação no quadro da minha análise do trabalho que estou a realizar mas fica-me uma certeza de que dificilmente escaparei a ela.

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