Saturday, July 09, 2005

espaços de estudo

Junho e Julho são meses difíceis para os estudantes universitários: exames e mais exames.

Esta época transforma os espaços públicos da cidade, reconfigurando a geografia da comunidade universitária: a calma dos edifícios universitários (exceptuando claro, das suas bibliotecas que abarrotam nestes dois meses), lugares para estacionar, relativa calma em bares e discotecas.
Mas em contraponto outros lugares são invadidos de apontamentos e livros: as já referidas bibliotecas universitárias, mas também a biblioteca municipal; alguns cafés na cidade em que se destaca o Santa Cruz; e em especial, talvez pela sua centralidade, o Bar do TAGV e a Sala de Estudo da AAC.

A estes dois são espaços ao qual dediquei algum tempo de observação.

A Sala de Estudo da AAC é um espaço (de grande “sabor” pessoal onde estudei mais de quatro anos da minha vida de estudante) frequentado por cerca de 100 estudantes dia (o que demonstra o quanto é insuficiente nesta época) e que tem como marca a sua multiculturalidade, pois são bastantes os alunos do PALOP aqui presentes. Nas duas tardes que por cá passei durante este mês e em que estive a ler textos sobre a cooperação transfronteiriça entre Portugal e Espanha... tive no entanto oportunidade de observar atentamente outro tipo de dinâmicas neste espaço. Um dos meus informantes, o Luís G. que esteve por lá referiu que “já por aqui engatei!”. Na realidade também eu recordo algumas história de engate naquele espaço, mas o Luís G. reafirmou que são habituais alguns estudantes homossexuais naquele espaço, e que “o pessoal costuma conversar e fumar uns cigarros nos intervalos do estudo e por vezes quem sabe se pode conhecer alguém por aqui!”. Alguns poderão se questionar como acontecem estes “encontros” mas a verdade é que depois de algumas horas de estudo apetece mesmo começar a olhar para o vizinho e começarmos a observar atentamente aquele olhar, aquela boca, ou um outro qualquer pormenor...

Já quanto ao espaço do Bar do TAGV a minha observação tem sido feita em algumas tardes de fim de semana, ou finais de tarde em que ponho a escrever no meu portátil. Por lá uns vinte estudantes sentam-se com os seus livrinhos e muitos apontamentos a estudar para o exame. O bar, com a sua música calma, luz natural – imensa- e a gente “bonita” que por lá passa transforma-se num óptimo local de trabalho e estudo. Mas como já em outra ocasiões referi este é também um espaço importante de encontro homossexual o que me levou, algumas vezes, a olhar atentamente quem por lá estudava. Claro que não foi difícil encontrar jovens estudantes homossexuais a estudar por lá.

Hoje deixei-me estar a observar tranquilamente este espaço... fui escrevendo durante a tarde coisas sobre o meu “trabalho das fronteiras”, mas com um olhar, ou outro, aos homossexuais, masculinos e femininos presentes, e ao seu comportamento.
O meu olhar esteve assim atento a um conjunto de percepções relacionadas com estes espaços como espaços de sociabilidade da comunidade gay e lésbica da cidade. Se na sua lógica funcional habitual – lugar de café à hora de almoço e do jantar, ou de fino ao final da tarde - este espaço é muitas um local de encontro da comunidade, nesta nova lógica funcional de “espaço de estudo”, é reincidente a presença de homossexuais. Entre o casal gay que estuda próximo e que de vez em quando faz um intervalo para um gesto de carinho; a jovem lésbica embrenhada num monte assustador de fotocópias, mas que lança um olha a quem entra; ou os dois amigos gays que estudando comentam, entre sorrisos, quem entra e quem sai...

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