Thursday, April 28, 2005

Um texto

Sei que algumas das pessoas que por aqui vêm nem sempre comentam...
As razões serão diversificadas!
Resolvi então criar uma provocação: que tal escreverem vocês um texto sobre homossexualidade e a cidade de Coimbra e mo enviarem (pjovieira@yahoo.com).
Peguem na caneta ou no portátil e escrevam o que lhes for pela mente!

Sunday, April 24, 2005

Coisas de livros

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Seria o próprio Fahrenheit 451… é um fascinante livro sobre livros… um monumento à literatura e à paixão dos livros…
Arderia… mas minhas páginas falariam da paixão dos livros


Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por um personagem de ficção?

Algumas personagens somos… algumas personagens gostaríamos de ser… outras obrigam-nos a ser…
O narrador dos livros de Tobias Schneebaum sem dúvida é uma personagem apaixonante…

Outra das minhas personagens preferidas é o narrador da autobiografia de Terenci Moix… ou seja o próprio.
Apesar de não editado em Portugal, Terenci Moix é um dos mais apaixonantes escritores espanhóis do final do século XX…

El peso de la paja, é o titulo desta autobiografia de que existem três volumes:
- El cine de los sábados.
- El beso de Peter Pan
- Extraño en el paraíso
.
Extraño en el Paraíso conta-nos as aventuras de um jovem barcelonês nas grandes capitais europeias no final dos anos 60…
uma viajem apaixonante… uma personagem!



Aconselho ainda de Terenci Moix para quem lê em castelhano

- Mundo Macho
- No digas que fue un sueño
- El amargo don de la belleza
- El arpista ciego



Qual foi o último livro que compraste?

Comprar livros é sempre difícil… mas das coisas ultimas que comprei:
- “Closet Space” de Michael Brown
- “City of Quarters” de David Bell


Qual o último livro que leste?

Que li apaixonadamente por razões de trabalho e que aconselho a todos…:

The Globalization of Sexuality de Jon Binnie




e


Pleasure Zones: Bodies, Cities, Spaces
de Jon Binnie, Ruth Holliday, Robyn Longhurst, Robin Peace, David Bell (Editor)




Que livros estás a ler?

Milhares de coisas… aqui ficam algumas…

- “Closet Space” de Michael Brown
- “City of Quarters” organizado por David Bell
- “Left Legalism / Left Criticism” organizado por Wendy Brown e Janet Halley
- “Handbook of Lesbian & Gay Studies” organizado por Diane Richardson e Steven Seidman
- “Handbook of Cultural Geography” organizado por Kay Andersen Mona Domosh, Steve Pile e Nigel Thrift
- “Social Geographies - From Difference to Action” de Ruth Panelli
- “Routing Borders, Between Territories, Discourses and Practices” organizado por Eiki Berg e Henk van Houtoum
- “B/Ordering Space” organizado por Henk van Houtoum, Olivier Kramsch e Wolfgang Zierhofer



Que livros levarias para uma ilha deserta?

Uma lista imensa… teriam que ser muitos baús…
- todo o Thomas Mann
- todo o Ruben A.
- todo o Al Berto
- toda a Sophia
- todo o Ricardo Llamas
- tudo o que existisse de Gill Valentine, David Bell e Jon Binnie
- todo o Tobias Schneebaum
- todo o Terenci Moix
- todo o José Luis Peixoto
- todo o valter hugo mãe
- todo o Rainier Maria Rilke
- todo o Proust
- todo o Virgínia Woolf
- todo o Michael Cunningham
- todo o Frank Ronnan
- todo o Reinaldo Arenas
- todo o Thomas Bernhardt



A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

Todo o pessoal à minha volta já teve esta tarefa… por isso deixo a quem quiser escrever…
Fica no entanto a provocação para o pessoal que por aqui deixa comentários (façam chegar as vossas respostas a pjovieira@yahoo.com que as publicarei por aqui)

A sexualidade produz cidade?

“O espaço invade o corpo e a mente para produzir experiência de fascinação , observação, desejo, alienação, investigação e transgressão – e deveremos acrescentar (pelo menos) exploração, abuso, voyerismo e privilégio”

Steve Pile é um dos muitos geógrafos pos-estruturalistas ingleses que tem vindo a escrever algumas das mais interessantes páginas sobre cidade, corpo e sexualidade… Como refere: “I have been undertaking a series of writing activities investigating the relationship between the city, everyday life and the spatial constitution of power”.
Num livro, recente intitulado, Temporalities, autobiography and everyday life, Steve Pile publica um capítulo intitulado Memory an the city, em que o autor sugere a ideia de que “as narrativas do self são inerentemente espaciais; e são espacialmente constituídas”
Neste interessante texto a influencia do filosofo alemão, Walter Benjamim, e do seu pensamento nomeadamente da ideia da cidade como memória. Os cafés, o passear na rua tudo isso ‘allows memory to flood in’.

Essa memória de encontros sexuais, essa memória de que “o desejo é cartografado nas ruas, (...) que atravessar espaços é sexual, que passear pedido pelas ruas é intrinsecamente sexual”. Essa memória que os meus informantes me falam... essa memória de espaços e de vivências.
Parte do meu trabalho é cartografar esse desejo homossexual nas ruas de Coimbra. É mostrar a outra cidade... é o passear pela ruas da cidade e ver a “outra Coimbra” que se demonstra nos sonhos e nos medos do encontro – não apenas sexual, mas eminentemente social - homossexual. Essa outra cidade que tem estado escondida no quadro heteronormativo com que a temos observado e que urge ultrapassar.

Como refere Pile “ é por isso possível pensar o espaço como organizador e produtor de género e sexualidade , mas também o género e a sexualidade como produtores de cidade”. Os exemplos e as palavras dos meus informantes que tenho analisado vão mostrando como por exemplo alguns espaços de Coimbra se tornam pela sua características de “anonimato e multidão” espaços construtores de uma sexualidade homossexual. Uma sexualidade - e as suas sociabilidades - “escondida” em códigos próprios de entendimento comunitário...
Mas, mostram também como essa mesma sexualidade vai construindo espaços como centrais nas vivências urbanas de toda a população. Espaços esses que o olhar menos atento da cidade caracterizará como minoritário, escondido, excluente, mas que na realidade aparecem como modelos de sociabilidade de grande importância para determinadas franjas da população.
Estes dois efeitos surgem essencialmente nos espaços semi-públicos, nomeadamente bares e cafés, mas também em alguns dos centros comerciais da cidade e em espaços universitários.

Friday, April 22, 2005

GeoGay

Uma destas quartas-feiras à saída da minha aula do Seminário de Geografia Humana resolvi ficar um pouco mais pela faculdade. No piso da Geografia no intervalo das 16 horas a animação era grande: o espaço estava a abarrotar. Como tenho estado afastado do curso, fiquei por ali a observar... apenas para perceber como são os meus colegas.
Estar ali a observar foi irónico. E ao mesmo tempo estimulante – e talvez mais ainda frustrante – observar que entre os meus colegas de licenciatura dos diferentes anos se encontravam alguns dos meus “objectos de estudo”. Claro que a constatação deste facto não é uma novidade, mas na verdade foi “frustrante” que não tenha conseguido passar aquele inquérito naquela população. Essa frustração não é tanto devida a esse facto mas sim ao modo como a heterossexismo da (so)ci(e)dade em que vivemos que impede que o meu relacionamento, enquanto investigador, com um grupo de pessoas que teria interesse em estudar.
Mas hoje houve ainda tempo para que o Luís - um dos meus informantes - que é estudante de geografia preenchesse o inquérito. Foi por isso “divertido” vê-lo a desenhar um mapa mental... um interessante exemplo do olhar sobre a cidade.

Wednesday, April 20, 2005

Uma noite de primavera

Numa destas noites de primavera resolvi depois do jantar ir calmamente beber um fino ao Quebra Costas. Cansado não tinha intenções de realizar observação participante naquela noite.
Com a Primavera a despontar a esplanada do Quebra começa a convidar a um fino à noite. Sentei-me na esplanada e observei o mundo que me estava próximo. Duas mesas ocupadas: um casal hetero cujo comportamento público indiciava uma grande paixão (!?); dois homens jovens, estrangeiros pela língua que falavam, mas que pelo olhar que trocavam dir-se-ia namorados. Também os gestos de carinho não enganavam... o toque daquelas duas mãos suave e levemente escondido... fizeram-me – involuntariamente – sorrir para os dois.

Uma hora depois a esplanada do Quebra estava cheia, com as simpáticas escadas a abarrotar de pessoas... e desta feita o tipo de pessoas presentes era bem mais diverso... mas uma das marcas deste bar é a presença de inúmeros homossexuais. E neste noite o mesmo aconteceu....
Veja-se uma descrição do tipo de pessoas presentes:
- eu e o grupo com quem estava, o Ivo, o Daniel, o José Luís, o Afonso. Sendo o grupo maioritariamente constituído por homossexuais assumidos estávamos “loucas”, até porque o humor do José Luís e do Ivo estava num dia “em cheio”;
- o casalinho estrangeiro – belga – continuava por lá, olhando por nós, sorrindo, numa tentativa de meter conversa que saiu gorada... o grupo onde estava fechou-se nas suas piadas;
- numa mesa ao lado três gays – “armários” quanto baste – olharam toda a noite o Ivo ( o mais bonito de todos nós, é certo);
- num outro canto um casal lésbico de Coimbra conversava, sorria e olhava para a estranha composição daquela noite no Quebra;
- um grande mas heterogéneo “grupo” que pontuava por todo o Quebra de jovens “queer”, essa “fauna” tipicamente coimbrã que de vez em quando lança olhares de engate sobre homens e mulheres. Neste grupo pontuava o Rui e os seus amigos, cuja maior diversão naquela noite foi olhar para as pessoas presentes.

Esta noite foi assim um exemplo duma simples saída de copos entre a “população homossexual” da cidade, ou quem sabe mais um exemplo do modelo de vivência homossexual na cidade.

Tuesday, April 19, 2005

Ponto de Encontro

Tenho escrito que na cidade de Coimbra os pontos de encontro homossexual da cidade se limitam no caso dos bares a dois ou três espaços. Um desses espaços é o Quebra Costas... um local central nas vivências homossexuais da cidade.

No sábado passado resolvi ir beber um café cerca das 22 horas. O Quebra estava calmo... apenas dois gays num outra mesa. Reconheci um deles e encetámos uma conversa simples sobre o que fazer numa noite de sábado na cidade.
Eles esperavam um terceiro amigo para encetarem caminho para irem a Leiria ao Blue Angel! Nada de especial, o Quebra serviu apenas de ponto de encontro de um grupo de amigos para uma viagem a uma discoteca gay!

Uma novidade?

Monday, April 18, 2005

O Código de Conduta e o Traje

Será que o traje – o modo de vestir – do investigador influencia o processo de pesquisa? Existirá um código de conduta quanto à vestimenta dos etnógrafos? Terá que o investigador que ter cuidado com o que veste quando realiza trabalho de campo? Mas se assim for não existirá um lado “falso” na presença do investigador no trabalho de campo?
Será que Boaventura de Sousa Santos teve cuidado na sua investigação no início dos anos 70 nas favelas do Rio de Janeiro? Na obra Towards a New Commom Sense (editada pela Routledge em 1995), no Chapter € (Chaper three-in-the-mirror) Relationships among perceptions that we call identity: doing research in Rio’s squatter settlements, -um texto brilhante sobre o trabalho etnográfico - refere a sua maneira de vestir como uma das suas excentricidades. De que modo essa sua excentricidade condicionou ou não a sua investigação.

Os que me conhecem pessoalmente – e que lêem este blog – sabem que tenho uma imagem pessoal excêntrica, que visto de um modo exuberante. Odeio o cizentismo e o azulismo das roupas masculinas... gosto de cores vivas, de roupa justa, de roupa andrógina.

Ontem à noite decidi-me depois do jantar, a ir beber um café ao bar do Teatro Académico Gil Vicente. Este espaço tem sido fortemente referido pelos meus informantes e pelos respondentes do inquérito como um dos locais de encontro entre os homossexuais na cidade de Coimbra. Por isso ir aquele lugar numa noite de Domingo parecia-me adequado.
Entrei e observei quem estava... sentei-me e tomei o meu café!
Reparei então nos três jovens num dos cantos do bar... olhavam “sorridentes”! Reconheci um deles: um jovem “problemático” quanto à sua orientação sexual. Levantei-me, cumprimentei-o e voltei para a minha mesa.
Os amigos olhavam para mim... voltei ao meu lugar e ouvi então: “Que roupa tão bicha!”.
Nada de novo...
Um comentário malicioso como tantos outros que tenho ouvido ao longo da minha vida! Mas de que modo este tipo de comentários podem influenciar o meu estudo? De que modo, junto de uma comunidade tão pouco visível, a minha visibilidade – publica, nomeadamente como activista – influencia a minha relação etnográfica?
Fiquei aborrecido como pessoa... mas esta situação levou-me acima de tudo a pensar no modo como estas coisas podem influenciar os processos de investigação.
E vocês que acham?

Saturday, April 16, 2005

Novidades…

Para a maioria dos leitores deste blog/caderno de campo eu tenho estado afastado. É verdade! Mas o trabalho de campo continua e nos próximos dias irei colocar no AeminiumQueer novos ‘post’ com histórias e reflexões que espero que comentem.

Os amigos, os informantes, os blogvizinhos todos tem criticado o vazio e por eles trarei novidades…

Esta semana encontrei uma pessoa que muito admiro, pessoalmente e cientificamente, na Faculdade Letras. Essa pessoa também me pediu para actualizar o diário de campo virtual… fiquei ‘babado’! Nunca pensei que ele lê-se o AeminiumQueer. O ‘ego’ cresceu…
Quando comecei a pensar a investigar na área das gepgrafias da sexualidade nunca pensei que este investigador estivesse de algum modo interessado no meu trabalho. É um homem que muito admiro, que tem para com a vida um olhar de grande beleza. Uma pessoa bonita (nos seus multiplos sentidos) num mundo cheio de coisas feias...